sexta-feira, 30 de julho de 2010

Onde as Farc vão ganhar força

Por Mary Anastasia O'Grady


Quando em 2008, a Colombia atacou um acampamento guerrilheiro na Fronteira com o Equador, o protesto mais estridente partiu de Caracas e não de Quito. O presidente venezuelano Hugo Chávez lamentou a morte do comandante Raul Reyes, das Farc, a quem chamou de "um bom revolucionário".

O mandatário queixou-se pela violação da soberania equatoriana e determinou que 10 batalhões de tanques fossem mobilizados para a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, advertindo o presidente Álvaro Uribe: "Não pensem em fazer isto aqui... seria muito sério... seria a declaração de guerra!"

Na Quinta Feira, a Colômbia explicou, mesmo sendo de forma indireta, porque Chávez lançou tanta fumaça sobre a operação de 2008. Numa apresentação de duas horas diante do Conselho Permanente da OEA, o embaixador Luis Alfonso Hoyos mostrou fotografias, vídeos, mapas, imágens de satélite e documentos que, segundo a Colombia, mostram os guerrilheiros usando o territorio venezuelano como refúgio, como faziam no Equador.

Hoyos também denunciou que a Venezuela sabe da existência dos acampamentos guerrilheiros, alguns dos quais estão em seu território há muito tempo, sem oposição. De fato, algumas vezes a Guarda Nacional Venezuelana confraterniza com os rebeldes, disse Hoyos.

Com esta informação, a reação de Chávez à incursão colombiana no Equador em 2008, parece lógica. Bogotá justificou a operação porque os pedidos a Quito para perseguir os gurrilheiros em seu território, foram ignorados. Agora temos razão para acreditar que Chávez seria o próximo.
Mas Uribe lançou uma ofensiva diferente. Reuniu dados de inteligência sobre a presença das Farc na Venezuela e os lançou como uma bomba, sobre o Conselho Permanente da OEA.

Os fatos não são novos. Há anos a Colômbia se queixa, com provas suficientes, sobre o tratamento amável que a Venezuela da aos guerrilheiros das Farc. Mas apresentando as evidências do modo como fez, Uribe colocou Chávez no meio do furacão. Mais ainda, colocou o problema envolvendo os seguidores de Chávez no hemisfério.

Hoyos revelou à OEA que a Venezuela abriga cerca de 1.500 guerrilheiros em mais de 75 acampamentos. Alí eles se reagrupam depois dos ataques, se organizam, treinam e preparam explosivos. As condições deste refúgio facilitam sequestros e tráfico de drogas em ambos os lados da fronteira. E mais mortes na Colômbia. Imágens cruéis das vítimas dos guerrilheiros apareceram na tela enquanto o diplomata falava.

Hoyos não pediu sanções contra a Venezuela. Pediu que uma comissão internacional verificasse, no terreno, as denúncias da Colômbia. Prometeu que seu governo pode fornecer as "coordenadas exatas" de chácaras e fazendas onde os guerrilheiros se escondem. Argumentou: "Se lá existe apenas uma escolinha e humildes camponeses, não há problema para uma comissão internacional verificar a correção da denúncia colombiana, não é verdade?"

Isto é razoável. Mas, antes mesmo do fim da reunião da OEA, Chávez, incapaz de conter a frustração de ser envergonhado por Uribe na arena política, rompeu relações diplomáticas com a vizinha Colômbia. Disse que era o mais indicado para manater a "dignidade".

É uma tristeza para os venezuelanos, que qualquer resquício de dignidade de seu governo tenha desaparecido há muito tempo. A copiosa documentação revelada pela Colombia, foi a última humilhação sobre a credibilidade de Chávez no cenário global.

Apesar do incômodo, os chavistas e seus aliados já esperavam algo assim. Na Quarta Feira, o embaixador do Equador na OEA, que ocupava a presidência rotativa do Coselho Permanente, renunciou. Disse que o fazia porque não podia cumprir a ordem de seu governo para bloquear a apresentação da denúncia da Colombia.

O ministro de relações exteriores, Ricardo Patiño, íntimo aliado da Venezuela, que aparentemente não está familiarizado com as normas institucionais, passou a Sexta Feira atacando o Secretário Geral da OEA, José Migual Insulza, por permitir que a Colombia usasse seu direito de apresentar o caso diante da OEA.

O Departamento de Estado dos EUA, declarou que a decisão de Chávez romper relações com a Colômbia era petulante e que apoiaria a proposta da Colombia. Isto abre a possibilidade de que se forme um comitê de verificação na OEA. E também explica porque o Equador e a Argentina defendem que o caso seja levado para a Unasul, um foro sulamericano onde Uribe será superado pelo número de tiranos esquerdistas.

A Colombia tem outras opções, como solicitar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que invoque a resolução 1373, que proibe seus membros de dar refúgio a terroristas. Na semana passada o promotor geral da Colombia sugeriu que o assunto poderia ser levado à Corte Internacional de Haia.

Os seguidores de Chávez fingem estar preocupados com uma possível guerra. Mas, se a Venezuela oferece refúgio às Farc, já cometeu uma agressão contra seu vizinho. Esta é uma verdade inconveniente e difícil de escapar.

Fonte: "El Diário Exterior", 28/07/2010

Tradução: A. Montenegro

Mary Anastasia O'Gradyé Articulista de América Latina do Wall Street Journal


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